sexta-feira, 13 de janeiro de 2012


Por que o ruim prospera?


Jefferson Marçal da Rocha
Professor da Unipampa

O Big-Brother, mesmo para quem não assiste, é um fenômeno social passível de reflexão. Entender como um programa tão limitado cultura, ética, moral e intelectualmente faz tanto sucesso, especialmente entre os jovens, talvez nos faça compreender que tipo de sociedade vivemos. Pois não são apenas cidadãos das classes sociais menos favorecidas, carentes de outros tipos de lazer, que se interessam por este tipo de “cultura” jovens da classe média, socialates frequentadoras de festinhas luxuosas, jovens universitários, entre outros também comentam sobre as asneiras propiciadas por este “laboratório de gente sem nada a dizer”. Neste contexto me parece que antes de condenarmos que a expectativa de lucros esta acima de qualquer senso moral, deve-se avaliar a própria sociedade do século XXI. Uma época em que a informática e adjacentes proporcionaram um mundo sem fronteiras, onde as informações giram de forma exponencial e instantânea. Mas isso esta servindo exatamente para que? Vivemos em um mundo mais adequado a convivência humana do que á cem anos atrás? A capacidade de reflexão dos jovens de hoje são mais coerentes com os das gerações anteriores? Para onde se esta sendo conduzida esta sociedade? Para o sociólogo Zygmunt Bauman um dos pensadores contemporâneos mais lúcidos, a ética na sociedade de consumo é caracterizada por um aprendizado rápido e de imediato esquecimento, isto faz com que os valores desta sociedade também se constituam de uma liquidez fluídica cada vez mais débil. No início do século XX onde os artistas apenas queriam fazer arte e não só “aparecer na mídia”, os intelectuais ocupavam um lugar de destaque na expansão de ideias e ideais, por conta disso as conferências de Einstein eram tão disputadas como as de shows pops nos dias de hoje. No Brasil a segunda edição de Os Sertões de Euclides da Cunha foi disputado como ingresso de show de rock nos dias de hoje. O que se perdeu de lá para cá? Uma das respostas deve-se ao desprestigio de leitura. É lamentável que a maioria dos jovens brasileiros não ocupem suas horas vagas com bons livros. Os motivos para não ler são as mais estapafúrdios, especialmente os que dizem que no Brasil os livros são muito caros. Estes são os mesmos que compram para seus filhos tênis de griffe de centenas de reais e televisões com hiper polegadas para assistirem cenas de gosto moral condenável. Ler é tão ou mais barato que uma pizza, e dura para toda à vida na mente, no coração e na alma. Instigar aos jovens a leitura talvez seja um dos caminhos para resolver um dos maiores males da sociedade: o excessivo valor do “ter” em contraposição do “ser”. Descobrir a emoção, a aventura e a vida que transbordam das páginas dos livros pode ser uma redescoberta de sua própria existência. Para o saudoso poeta Mario Quintana: “Analfabeto é aquele que sabe ler e não lê” eu acrescento: aquele que pode comprar livros e não compra é o mais pobre dos homens. Talvez a resposta para a questão do título seja esta: “só nas sociedades bárbaras o ruim próspera” e as consequências são sempre catastróficas. Pense nisso e desligue a TV.