Por que o ruim prospera?
Jefferson
Marçal da Rocha
Professor da
Unipampa
O Big-Brother, mesmo para quem não assiste, é um
fenômeno social passível de reflexão. Entender como um programa tão limitado
cultura, ética, moral e intelectualmente faz tanto sucesso, especialmente entre
os jovens, talvez nos faça compreender que tipo de sociedade vivemos. Pois não são
apenas cidadãos das classes sociais menos favorecidas, carentes de outros tipos
de lazer, que se interessam por este tipo de “cultura” jovens da classe média, socialates frequentadoras de festinhas
luxuosas, jovens universitários, entre outros também comentam sobre as asneiras
propiciadas por este “laboratório de gente sem nada a dizer”. Neste contexto me
parece que antes de condenarmos que a expectativa de lucros esta acima de
qualquer senso moral, deve-se avaliar a própria sociedade do século XXI. Uma
época em que a informática e adjacentes proporcionaram um mundo sem fronteiras,
onde as informações giram de forma exponencial e instantânea. Mas isso esta
servindo exatamente para que? Vivemos em um mundo mais adequado a convivência
humana do que á cem anos atrás? A capacidade de reflexão dos jovens de hoje são
mais coerentes com os das gerações anteriores? Para onde se esta sendo
conduzida esta sociedade? Para o sociólogo Zygmunt Bauman um dos pensadores
contemporâneos mais lúcidos, a ética na sociedade de consumo é caracterizada
por um aprendizado rápido e de imediato esquecimento, isto faz com que os
valores desta sociedade também se constituam de uma liquidez fluídica cada vez
mais débil. No início do século XX onde os artistas
apenas queriam fazer arte e não só “aparecer na mídia”, os intelectuais ocupavam
um lugar de destaque na expansão de ideias e ideais, por conta disso as
conferências de Einstein eram tão disputadas como as de shows pops nos dias de hoje. No Brasil a
segunda edição de Os Sertões de
Euclides da Cunha foi disputado como ingresso de show de rock nos dias de hoje.
O que se perdeu de lá para cá? Uma das respostas deve-se ao desprestigio de
leitura. É lamentável que a maioria dos jovens brasileiros não ocupem suas
horas vagas com bons livros. Os motivos para não ler são as mais estapafúrdios,
especialmente os que dizem que no Brasil os livros são muito caros. Estes são
os mesmos que compram para seus filhos tênis de griffe de centenas de reais e televisões com hiper
polegadas para assistirem cenas de gosto moral condenável. Ler é tão ou
mais barato que uma pizza, e dura para toda à vida na mente, no coração e na
alma. Instigar aos jovens a leitura talvez seja um dos caminhos para resolver um
dos maiores males da sociedade: o excessivo valor do “ter” em contraposição do
“ser”. Descobrir a emoção, a aventura e a vida que transbordam das páginas dos
livros pode ser uma redescoberta de sua própria existência. Para o saudoso
poeta Mario Quintana: “Analfabeto é aquele que sabe ler e não lê” eu
acrescento: aquele que pode comprar livros e não compra é o mais pobre dos
homens. Talvez a resposta para a questão do título seja esta: “só nas sociedades
bárbaras o ruim próspera” e as consequências são sempre catastróficas. Pense
nisso e desligue a TV.