segunda-feira, 24 de outubro de 2011
A poesia e o "Anjo Malaquias"
Em 2006 comemorávamos os cem anos de um dos
maiores poetas brasileiros, nascido em Alegrete numa noite fria de 31 de julho,
Mario Quintana (Anjo Malaquias, segundo o Erico Veríssimo)que escolheu as palavras
para retratar as angustias e os desafios da existência. Fazia poesia com tudo
que via e ouvia, era capaz de filosofar com as mais profundas incertezas da
alma (A vida é indivisível. Dize, Qual o sentido do calendário?) ou de coisas simples
como a preguiça (Por causa tua, quantas más ações deixei de cometer!) ou ainda
de temas insólitos como a morte (A morte é quando a gente pode, afinal, estar
deitado de sapatos). Sua poesia não tem idade, nem sexo, nem ideologia, nem
cor, só tem paixão. Contudo é preciso saber “ouvir” o nosso próprio coração
para entendê-lo, o que todos são capazes. Lembro que neste ano um jovem
acadêmico comentou que não gostava de poesia, pois não as entendia. Desafie-lhe
a ler um dos livros do Quintana (O aprendiz de feiticeiro), mas antes salientei
que ele deveria se deixar levar pelos olhos da alma, usufruir das batidas do
coração em sintonia com a natureza do silêncio. O tempo passou. Esqueci-me
deste jovem. Quando então o não mais jovem acadêmico, mas agora um jovem
profissional, reapareceu (agora já com vários anos de poesia) me chamou e disse:-
Entendi professor! Entendi! Sem saber muito bem do que ele estava se referindo,
estendi o olhar, e ele disse-me, agora pausada e poeticamente outra pérola do
Anjo Malaquias: “Teus poemas, não os dates nunca...as almas não entendem disso”.
Não sei mais por onde andará “aquele que não entendia de poesia”, mas certamente
andará poetizando quintanares por ai. Para entender poesia têm que ser
também um pouquinho poeta, um pouquinho sonhador e amar incondicionalmente a existência humana. Bem, se for Anjo como o Mario não precisa de nada disso, basta respirar.
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Parabéns Pai. Muito bom este pequeno texto, que merece divulgação (o divulgarei nas redes sociais).
ResponderExcluirDesde pequeno (mesmo sem entender) fui influenciado pelos poemas de Quintana, graças a você pai.
E quando tu trás este exemplo, deste jovem que não entende os poemas, e depois acaba intendendo, vi o quanto valeu a sua influência.
Muito Obrigado, por ter insistido em uma educação de cultura e ciência. O que me faz, hoje, ter uma mente muito mais aberta.
Graças a esta educação, acredito que estou no caminho certo.
Continua fazendo isso que tu gosta, que está no caminho certo (apesar de longo), atrás de uma sociedade mais culta, justa e melhor.
Obrigado Pai.
Emmanuel Rocha
Mestre...
ResponderExcluirParabéns por este pequeno grande texto.
Realmente, para entender poesia tem de ser com a alma, com a profunda inquietude da condição humana.Se perguntar ao próprio Quintana o que ele quiz dizer naquela poesia? Ele já respondeu o trágico dilema:
Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.
abç
Obrigada pai, por me fazer entender o valor de uma boa leitura e a beleza de uma poesia!
ResponderExcluirAcredito que todos os teus filhos (de sangue, ou não) são felizardos por ter um pai/professor tão dedicado, desde sempre, em fazer a sociedade mais culta, feliz e sábia.
Que tu tenhas forças para seguir lutando e sabedoria para seguir educando.
Obrigada por cada palavra que me foi dita e por cada verso que me foi lido. Sei que isso contribuiu para o que eu sou hoje e nas minhas escolhas.
Te amo!
Nájila Rocha